PEDRO COSTA ENTRE O DEVIR COMUM E O DEVIR IMPRÓPRIO: POSSIBILIDADES PARA PENSAR A SINGULARIZAÇÃO DE COMUNIDADES MÍNIMAS COM O FILME JUVENTUDE EM MARCHA

Autores

  • Breno Isaac Benedykt USP

DOI:

https://doi.org/10.34112/1980-9026a2019n38p50-58

Resumo

Ao percorrer o conceito de devir na obra de Gilles Deleuze e, mormente, após seu encontro com Félix Guattari, sentimos que este, dado à sua crescente abrangência e dinâmica cada vez mais ramificada, caminha sentido uma nova noção de imagem como produção de singularizações as quais despossuem o homem de seus limites organizacionais em forças anômalas. Em um texto decisivo, 1730 – Devir-intenso, devir-animal, devir-imperceptível… encontramos a reapropriação da noção de anômalo, oriunda dos escritos de Georges Canguilhem, para construir o elo entre o devir-animal e os grupos (ou povos) minoritários – oprimidos, proibidos, revoltados, periféricos –: traço nevrálgico para pensar o cinema de Pedro Costa. Porém, é em conexão com Maurice Blanchot que essa dimensão problemática da experiência do devir ganha fôlego e dá consistência a uma dobra comunitária. Não se trata mais do anômalo solitário, como borda da matilha, mas do comum impróprio como dobra em individuação. Deleuze em ao menos dois momentos chega a remeter-nos a uma possível relação entre devir e comunidade, mas pouco a explora. Num primeiro momento, em Cinema II: A Imagem-Tempo, ao tratar dos filmes de Jean Rouch e Pierre Perrault, e, mais adiante, em seu ensaio Bartleby, ou a fórmula. Tendo isso em vista, é no arranjo entre seu pensamento (e de Guattari) e o de Blanchot que desenvolveremos uma linha capaz de dar expressividade filosófica à experiência arrebatadora que o cineasta Pedro Costa nos apresenta em seu filme Juventude em Marcha. No filme, seguimos uma personagem, Ventura, a qual, sem deixar de operar uma individuação excepcional, jamais cessa de desfazê-la em linhas afecto-comunitárias. Assim, entre a escrita, a voz e a imagem, na penumbra de espaços e tempos díspares, encontramos a atualização de comunidades mínimas, as quais revelam sua força imprópria e, portanto, não identitária.

Biografia do Autor

Breno Isaac Benedykt, USP

Doutorando em Filosofia na Universidade de São Paulo. Bolsista FAPESP, número do processo: 2018/03080-9.

Referências

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Referências fílmicas

JUVENTUDE em Marcha. Direção Pedro Costa. Portugal. Ventura Film; Contracosta produções; Les films de L’etranger; Radio Televisão Porguesa (RTP). 1 DVD. (156 min.).

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Publicado

2019-10-03

Edição

Seção

Dossiê – Artigos